Uma mesa-redonda virtual realizada em abril (20) reuniu lideranças femininas do mundo todo, incluindo chefes de Estado e de governo e membros da sociedade civil, para discutir a importância de mulheres e meninas estarem no centro da resposta à pandemia de COVID-19 .
O evento foi presidido por Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora-executiva da ONU Mulheres, e Gabriela Ramos, chefa de gabinete da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O encontro também teve como objetivo identificar e priorizar medidas políticas que facilitem um caminho de recuperação mais inclusivo.
As mulheres líderes (lista completa abaixo), variando de chefas de Estado e de governo, incluindo presidenta, primeira-ministra e vice-presidenta, a membros da sociedade civil, lideranças de movimentos mundiais de mulheres e ativistas jovens, representaram as vozes de mulheres de vários setores para compartilhar seus conselhos com base em sua experiência anterior e durante a crise.
As líderes concordaram que garantir a igualdade de gênero e os direitos das mulheres é essencial para superar essa pandemia, recuperar-se mais rapidamente e construir um futuro melhor. Elas instaram os governos e todas as partes interessadas a colocar mulheres e meninas no centro de seus esforços e posicionar a liderança e as contribuições das mulheres no centro dos esforços de resposta, resiliência e recuperação da COVID-19.
Considerando a escassez de vozes das mulheres em todas as esferas de tomada de decisão, incluindo na crise, a mesa-redonda serviu para apresentar as medidas necessárias para evitar que esta se torne um grande revés para a segurança e o bem-estar de meninas e mulheres em todo o mundo.
Durante a reunião, Phumzile Mlambo-Ngcuka disse: “um dos aspectos mais devastadores dessa pandemia é o modo como a violência contra as mulheres, incluindo a violência doméstica, aumentou muito em muitos países”.
“Todos os governos devem declarar serviços para prevenir e responder à violência contra as mulheres como essenciais. Isso inclui linhas de apoio e abrigos. Eles não devem apenas receber a atenção e o financiamento de que precisam agora, mas esses recursos devem continuar após a pandemia. Além disso, os pacotes de estímulo socioeconômico devem incluir disposições especiais para mulheres. ”
Gabriela Ramos disse: “em um mundo desigual, uma crise de saúde como a que enfrentamos hoje fere desproporcionalmente as mulheres”. “As mulheres assumem a maioria dos trabalhos de assistência, remunerados e não remunerados, representando 70% da força de trabalho da área de saúde em todo o mundo e 95% da força de trabalho de longo prazo em toda a OCDE.”
“Elas estão arriscando suas vidas, mas seus salários, situação, reconhecimento social e visibilidade são limitados. Além disso, as mulheres estão potencialmente super expostas a essas consequências econômicas, pois estão super-representadas na economia informal sem proteção social adequada.”
“Essencialmente, enfrentamos duas opções ao responder a esta crise: podemos permitir que esses impactos desproporcionais exacerbem as desigualdades existentes ou podemos garantir uma incorporação de uma forte lente de gênero nos esforços de resposta e recuperação para emergir mais forte – e nossa escolha é óbvia. O mundo pós-COVID-19 nunca mais será o mesmo, e cabe a todas as pessoas garantir que as mulheres se saiam melhor.”
Participantes:
Chefa de Estado e Representantes de Governo
– C.E. Sahle-Work Zewde, presidenta da Etiópia
– C.E. Katrín Jakobsdóttir, primeira-ministra da Islândia e presidentado Conselho das Mulheres Líderes Mundiais
– C.E. Marta Lucia Ramírez, vice-presidenta da Colômbia
– Marlène Schiappa, ministra de Estado da Igualdade de Gênero e Luta contra a Discriminação
– Nadine Gasman, presidenta da Inmujeres México
Representantes da Sociedade Civil
– Anne-Birgitte Albrectsen, CEO da Plan International
– Hibaaq Osman, presidenta, The Think Tank para Mulheres Árabes, El Karama, The Dignity Fund
– Jaha Dukureh, fundadora da Safe Hands for Girls e embaixadora regional da Boa Vontade da ONU Mulheres
– Michelle Nunn, presidenta e CEO da Care USA
– Roopa Dhatt, presidenta da Women in Global Health
– Salam Al-Nukta, Líder Jovem e membra da Força-Tarefa da Juventude de Pequim +25
– Shantel Marekera, Líder Jovem e membra da Força-Tarefa da Juventude de Pequim +25
– Tarana Burke, fundadora do movimento #MeToo
Organizações intergovernamentais e filantropia
– Aya Chebbi, enviada para Juventude da União Africana
– Bineta Diop, enviada especial da União Africana para Mulheres, Paz e Segurança
– Gabriela Cuevas Barron, presidenta da União Interparlamentar
– Helena Dalli, comissária Europeia para a Igualdade
– Jayathma Wickramanayake, enviada da ONU para a Juventude
– Kalpana Kochhar, diretora do Fundo Monetário Internacional
– Natalia Kanem, diretora executiva do UNFPA
– Silvana Koch-Mehrin, presidenta da Women Political Leaders
– Stefania Giannini, diretora geral adjunta de Educação da UNESCO
As participantes da mesa-redonda identificaram as principais áreas de ação:
Sistemas de saúde e assistência médica: As mulheres representam 70% da força de trabalho global no setor de saúde, mas estão concentradas em cargos de nível e salários inferiores. Durante essa crise, as trabalhadoras da área da saúde têm intensificado e ampliado suas jornadas, respondendo aos efeitos imediatos dessa crise.
– Garantir condições de trabalho adequadas para as e os profissionais de saúde, incluindo fornecimento adequado de equipamentos de proteção, remuneração e liderança iguais e horas de trabalho razoáveis.
– Garantir que as necessidades das mulheres sejam levadas em consideração tanto como trabalhadoras quanto como pacientes, bem como financiamento adequado para os problemas de saúde das mulheres e os direitos sexuais e reprodutivos.
Impacto econômico: A contenção e o bloqueio (lockdown) são vitais para salvar vidas, mas estão tendo um impacto terrível no bem-estar econômico das pessoas em todo o mundo.
Estima-se que 2,7 bilhões de trabalhadoras e trabalhadores, ou cerca de 81% da força de trabalho do mundo, sejam atualmente afetadas por medidas de bloqueio. Mulheres com responsabilidades de cuidado, trabalhadoras e trabalhadores informais, famílias de baixa renda e jovens estão sob pressão particular.
– Garantir proteção social adequada para as mulheres que enfrentam riscos em seus empregos e renda. Essa proteção social deve assumir a forma de subsídios para as trabalhadoras que enfrentam demissões, mediação para adiar o pagamento de serviços públicos e aluguel, e suspender os despejos, aumentando o acesso à proteção dos serviços de saúde.
– Garantir apoio social adequado para as mulheres que participam do trabalho informal, incluindo a ampliação do acesso a benefícios de desemprego para trabalhadoras não padronizadas e informais.
– Apoiar a juventude que enfrenta perdas de emprego durante esse período e provavelmente enfrentará desafios de emprego após a crise. Garantir o acesso a oportunidades de aprendizado e qualificação digital, bem como ferramentas digitais para conectar jovens com oportunidades de emprego.
– Prestar apoio às trabalhadoras com responsabilidades de assistência ou de cuidado, acesso a instalações de cuidados infantis para trabalhadoras essenciais, promover acordos de trabalho flexíveis, subsídios financeiros para as empregadoras e empregadores que fornecem licença remunerada.
– Incentivar as empresas a realizar a devida diligência sobre os impactos adversos reais e potenciais sobre as mulheres nas cadeias de suprimentos.
Violência de gênero: Antes da crise, mais de 1 em cada 3 mulheres haviam sofrido violência física e/ ou sexual. Desde a crise, essas taxas aumentaram. Certos países tiveram um aumento de mais de 30% de chamadas nas linhas de apoio. Os serviços de suporte seguem trabalhando para atender as mulheres.
– Integrar esforços para prevenir e responder a todas as formas de violência contra as mulheres nos planos de resposta da COVID-19;
– Designar abrigos de violência doméstica como serviços essenciais e aumentar os recursos para eles e para os grupos da sociedade civil na linha de frente da resposta;
– Designar espaços seguros para as mulheres denunciarem abusos sem alertar os autores, inclusive on-line;
– Intensificar campanhas de conscientização, inclusive visando homens em casa.
Mulheres, paz e segurança e ajuda humanitária: Os efeitos desproporcionais dessa crise nas mulheres como trabalhadoras da saúde e cuidadoras são amplificados nos contextos dos países em desenvolvimento. Além disso, os orçamentos de ajuda estão ameaçados, pois os governos dos países doadores investem pesadamente em medidas para proteger as suas próprias populações.
– Garantir a liderança das mulheres nas respostas humanitárias e nas áreas de conflito.
– Garantir acesso a serviços básicos para os grupos mais marginalizados de mulheres, incluindo mulheres rurais indígenas, refugiadas e migrantes.
– Realizar trabalho de assistência humanitária de acordo com os padrões para acabar com a exploração, abuso e assédio sexual.
Para obter mais informações e análises sobre os impactos de gênero da Covid-19, consulte o Brief de Políticas da OCDE: Mulheres no centro da luta contra a crise da Covid-19 e o Brief de Políticas da ONU: O impacto da Covid-19 nas mulheres .
Fonte
O post “Mulheres e meninas devem estar no centro dos esforços de resposta à COVID-19” foi publicado em 26th May 2020 e pode ser visto originalmente diretamente na fonte ONU Brasil