A criatividade e o saber ancestral da etnia Warao podem se tornar uma fonte de renda e esperança para refugiadas e migrantes desta população indígena acolhida em Manaus (AM) .
Uma parceria da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) com o Museu Casa do Objeto Brasileiro promoveu em novembro uma oficina de inovação para artesãs indígenas moradoras do Abrigo Alfredo Nascimento, localizado na zona norte da cidade.
Contando com apoio financeiro da União Europeia, as oficinas fazem parte de uma estratégia para transformar o potencial artístico indígena em peças para serem disponibilizadas no mercado de artesanato, por meio da qualidade histórico e cultural das criações Warao. Para isso, conta com o trabalho de orientação do renomado designer mato-grossense, Sérgio Matos.
“O artesanato Warao é completamente diferente de todas as comunidades com as quais já trabalhei. A grande capacidade de fazer pontos, os grafismos que elas desenvolvem, as construções, tudo tem um trabalho artístico muito forte por trás”, destaca Matos, que no ano passado já ministrou oficinas nas cidades de Pacaraima e Boa Vista (RR).
“A ideia é mostrar esse talento, valorizar a cultura e o trabalho das artesãs Warao que vieram ao Brasil, sendo uma oportunidade para que possam caminhar de forma autônoma.”
A palha de cabuya ou ojidu, conhecida como buriti no Brasil, é a principal matéria-prima das peças. O buriti é um material bastante presente na cultura Warao, sendo os frutos aproveitados na alimentação, o tronco e as palhas na produção de canoas, e até construção de casas. Nas mãos das artesãs, se tornam peças como fruteiras, cestos, vasos e luminárias.
“O trançado é algo que aprendemos desde criança, vai sendo passado de geração para geração. Com o Sérgio estamos aprendendo a ver os detalhes, ter ideias e é uma novidade para todas as mulheres. Isso pode render emprego, o dinheiro vai poder chegar nas nossas mãos”, comenta Josefina Gregoria Jiménez Moraleda, que participou do curso.
Mostra em São Paulo
As criações serão apresentadas em exposição no Museu Casa do Objeto Brasileiro em São Paulo, prevista para 2020. A ideia é promover o intercâmbio cultural, divulgar o trabalho e vendê-los a lojistas, empresas e público interessado.
A exposição será continuidade à mostra que ocorreu entre 7 de novembro e 20 de dezembro no museu, que contou com criações feitas em Boa Vista e Pacaraima.
Todo o dinheiro arrecadado apoiará novas ações de geração de renda para as famílias produtoras.
“Essa iniciativa empodera mulheres de diferentes gerações da comunidade indígena Warao a terem maior autonomia, garantindo renda para elas próprias e suas famílias. Como trabalham artesanato de forma coletiva, também fortalecem sua cultura estreitando laços comunitários e familiares”, reforça Catalina Sampaio, chefe do escritório do ACNUR em Manaus.
Indígenas Warao no Brasil
Os Warao, conhecidos como “Povo da Água”, é um grupo étnico formado há mais de oito mil anos na região do delta do rio Orinoco, sendo atualmente o segundo maior povo indígena da Venezuela, com cerca de 49 mil pessoas.
A partir de 2016 começaram a chegar no Brasil, forçados a deixar seu país devido à crise política e econômica. Estima-se que pelo menos 4.500 indígenas Warao vindos da Venezuela encontram-se refugiados no Brasil.
Fortalecimento da resposta
A iniciativa conta com apoio da União Europeia, por meio de um projeto implementado com ACNUR e UNFPA, que investe no fortalecimento da resposta aos venezuelanos na região norte do Brasil e na promoção da proteção de populações em maior situação de vulnerabilidade, como é o caso dos indígenas Warao.
De acordo com a Polícia Federal, cerca de 212 mil venezuelanos encontram-se no país, sendo 115 mil solicitantes de refúgio e 97 mil residentes temporários. Segundo estimativas das Nações Unidas, quase 4,5 milhões de venezuelanos já deixaram seu país.
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