O ex-diretor da Divisão de Proteção Ambiental (DIPRO) do Ibama, Luciano de Meneses Evaristo, se aposentou, após 30 anos no órgão e somando 42 no serviço público. Ele estava lotado na superintendência do órgão em Goiás desde o ano passado. A portaria com o anúncio da aposentadoria voluntária foi publicada na edição desta segunda-feira (03) no Diário Oficial da União .
Evaristo trabalhava no Ibama desde 1992. Começou no Centro Nacional de Quelônios da Amazônia. Depois, em Brasília, passou pela Diretoria de Gestão Estratégicas, Coordenação-Geral de Fiscalização Ambiental, Centro de Sensoriamento Remoto, Corregedoria, Coordenação Geral de Fiscalização e Diretoria da Divisão de Proteção Ambiental, além de atuar como presidente substituto do Ibama na gestão de Suely Araújo (2016-2019). No governo Bolsonaro, foi exonerado da Dipro e voltou para a superintendência do Ibama em Goiás, onde trabalhou na prevenção e combate aos incêndios florestais na Terra Kalunga, a maior terra quilombola do país, um trabalho que lhe enche de orgulho.
“Montamos 6 brigadas, 90% constituída de quilombolas e trabalhamos na proteção do cerrado nordeste goiano, a última mancha de Cerrado que ainda existe no estado, que só existe por causa deles [os quilombolas]”, explica Evaristo, em conversa por telefone com ((o))eco.
Economista de formação, se formou analista ambiental no dia a dia dia da instituição. Considera que toda sua formação se completou após entender que precisava trabalhar envolvendo as populações tradicionais. “Quando eu vim pro Ibama, achei que tinha que defender a lei, tinha que defender a natureza e usar o aparato que o Estado me desse para isso. Depois eu entendi que se você não trouxer a comunidade para o seu lado, você não vai conseguir fazer nada”, disse, relembrando o dia em que os Kayapós bateram na porta do Ibama para falar sobre madeireiros que estavam explorando madeira ilegalmente dentro de suas terras. Desta denúncia nasceu uma das maiores operações conjuntas do órgão com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, a operação Rios Voadores, que em junho de 2016 prendeu o pecuarista Antonio José Junqueira Vilela Filho , acusado de comandar o esquema de desmatamento ilegal e grilagem de terras no interior do estado do Pará.
“Lá não havia um único polígono do Deter. Os madeireiros derrubavam as árvores de maior valor comercial e deixavam as outras, e o satélite antigo não pegava. Sem a denúncia dos índios, jamais essa operação teria sido possível”, afirma.
Populações tradicionais como aliadas
“Se eu pudesse destacar o que mais me marcou na minha carreira foi ter aprendido a trabalhar com comunidade tradicional, foi fantástico ter montado meu sistema de inteligência e operado com eles”, diz.
A melhoria técnica do Deter e dos mecanismos de controle e fiscalização ambiental é um dos motivos que torna Evaristo otimista sobre o futuro do órgão. “O combate o ilícito será decisão política, porque saber onde está a gente sabe. Sabemos (no Ibama) onde está cada desmatamento e cada queimada”, diz. “Meus colegas do Ibama estão todos lá querendo trabalhar. Basta os dirigentes dar apoio e botar na cabeça que o Ibama não é um órgão ideológico. É um órgão técnico, é um órgão que cumpre a legislação, que cumpre a lei”, finaliza.
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