DO OC – Cerca de 93% dos países não cumpriram o prazo determinado pela ONU para a entrega de suas novas metas climáticas, as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês). Apenas 13 dos 195 signatários do Acordo de Paris apresentaram até segunda-feira (10/2) seus objetivos para 2035, em meio à necessidade de medidas urgentes e coletivas para combater a mudança do clima.
Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos, Brasil, Uruguai, Suíça, Reino Unido, Nova Zelândia, Andorra, Santa Lúcia, Equador, Zimbábue, Cingapura e Ilhas Marshall foram pontuais na entrega de suas NDCs. Entre eles há apenas cinco países desenvolvidos, que devem liderar a ação climática. Nesta quarta-feira (12/2), o Canadá também submeteu sua NDC.
Maior poluidor histórico, os Estados Unidos anunciaram sua nova meta em dezembro, durante a gestão do ex-presidente Joe Biden. Desde então, o presidente Donald Trump assinou decreto horas após sua posse para retirar novamente os EUA do Acordo de Paris, como já havia feito em seu primeiro mandato.
Já o Brasil foi o segundo país a apresentar sua NDC, em novembro, atrás apenas dos Emirados Árabes. Análises do Observatório do Clima e do Climate Action Tracker , no entanto, classificaram o compromisso do sexto maior poluidor atual como insuficiente para conter o aumento da temperatura global a 1,5ºC acima do período pré-industrial (1850-1900), patamar considerado limítrofe para evitar um cataclismo.
Os 182 países atrasados representam cerca de 83% das emissões de gases-estufa e 80% da economia global, segundo análise do site Carbon Brief . O grupo inclui China, Índia, União Europeia e Rússia, que estão entre os cinco maiores poluidores.
Pelo Acordo de Paris, de 2015, os países se comprometeram a apresentar a cada cinco anos novos planos para o corte de emissões de gases-estufa e de adaptação à mudança do clima, entre outros pontos. As metas devem ser progressivamente mais ambiciosas e alinhadas ao objetivo de limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC até 2100.
NDCs foram entregues entre 2015 e 2016 e, depois, entre 2020 e 2021. O prazo para o envio neste ano foi estipulado para nove meses antes do início da COP30, que será realizada em Belém (PA), de 10 a 21 de novembro.
As novas atualizações devem ser apresentadas em meio a recordes de temperatura registrados no planeta. Segundo análise do Copernicus, janeiro de 2025 foi o mais quente já registrado e, em 18 dos últimos 19 meses, o aumento dos termômetros ultrapassou 1,5ºC em comparação ao período pré-industrial.
“Um número tão baixo de NDCs em um momento tão crítico do enfrentamento da crise climática é muito preocupante, mas não surpreendente, depois do fracasso da discussão de financiamento climático no ano passado”, avalia Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima.
A COP29, realizada em Baku, no Azerbaijão, em novembro de 2024, aprovou financiamento anual de US$ 300 bilhões até 2035 para mitigação, adaptação e cobertura de perdas e danos em países em desenvolvimento. O valor, no entanto, ficou muito abaixo do US$ 1,3 trilhão reivindicado por nações em vulnerabilidade.
A resistência veio principalmente dos países ricos, maiores emissores históricos após conquistarem seu desenvolvimento às custas da queima de combustíveis fósseis. Determinar meios para chegar a US$ 1,3 trilhão em financiamento climático será um dos principais objetivos da COP30.
Em visita ao Brasil na última quinta-feira (6/2), o secretário-executivo da ONU para Mudanças Climáticas, Simon Stiell, disse que a “grande maioria dos países” indicou que enviará suas novas NDCs até o fim do ano. Segundo ele, “faz sentido que os países levem um pouco mais de tempo para garantir que os planos terão alta qualidade”.
Para Alexandre Prado, líder em mudanças climáticas do WWF-Brasil, a justificativa de Stiell é válida, desde que os documentos sejam realmente ambiciosos:
“Se chegar no meio do ano, em setembro, e tiverem NDCs muito aquém em termos de ambição, aí teremos um problema enorme”, disse ele, lembrando que atrasos nos envios são comuns.
Em análise das metas já apresentadas, o site Climate Action Tracker constatou que, assim como os do Brasil, os compromissos de Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos e Suíça também são insuficientes para limitar o aquecimento a 1,5 °C. O Reino Unido (22º maior emissor) apresentou uma meta compatível com o limite.
Nova Zelândia e Cingapura, que enviaram as novas NDCs nos dias 31 de janeiro e 10 de fevereiro, respectivamente, tinham metas anteriores classificadas como altamente insuficientes. As atuais ainda não foram analisadas. Os outros países não são avaliados, mas são pequenos emissores.
Para Stela Herschmann, a demora na apresentação de NDCs e a falta de metas mais robustas ocorrem em um momento-chave: 2025 é o prazo para que as emissões globais atinjam o pico. Segundo o IPCC, para evitar um aumento descontrolado da temperatura, as emissões precisam ser reduzidas em 60% até 2035, em relação aos níveis de 2019.
“Em um momento em que o maior emissor histórico, os Estados Unidos, se retira do esforço global, precisamos que outros grandes emissores e economias ocupem esse vácuo e dobrem a aposta no enfrentamento da crise climática”, afirma Herschmann. (PRISCILA PACHECO)
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O post “93% dos países perdem prazo para entrega de novas metas climáticas” foi publicado em 12/02/2025 e pode ser visto originalmente na fonte OC | Observatório do Clima